terça-feira, 30 de novembro de 2010

"Entre os muros da escola" (2008), de Laurent Cantet


Capturar a realidade nunca foi uma obrigação do cinema, embora muitos cineastas já tenham se debruçado sobre essa premissa ao longo de mais de cem anos da invenção desse que é um dos mais poderosos instrumentos de comunicação, por muito tempo não tendo sido considerado arte. Mas o outro lado também sempre existiu.
É maravilhoso poder embarcar em histórias surpreendentes em sua inverossimilhança, com carros explodindo, mortes inacreditáveis, romances em que o final feliz é um caminho certo e outras improbabilidades da vida real. Mas acompanhar a tentativa de apreensão das agruras diárias que, por vezes, nos entorpecem, também tem sua validade.
"Entre os muros da escola" navega pelas águas assustadoras do verdadeiro, ainda que na acepção mais cinematográfica da palavra, sem se dar a discussões filosóficas e existencialistas que ela pode e, certamente, suscita. As lentes de Laurent Cantet (Em direção ao sul) estão voltadas para o cotidiano tumultuado de uma escola na periferia parisiense onde se encontram todos os tipos de estudantes. Ali, os professores que têm de lecionar para um público tão heterogêneo matam um leão por dia, lidando com reações inflamadas de estudantes que não encontram motivação para prosseguir com suas atividades discentes. Não raro, perdem a paciência, explodindo nos bastidores com os demais colegas.
O foco do longa, todavia, está em um professor específico: François Bégaudeau. Ele dá aulas de francês, e vive o desafio de colocar na cabeça dos seus alunos a importância de se aprender e do quanto o estudo pode render bons frutos. A turma para a qual ele ensina tem imigrantes de várias etnias misturados aos franceses "legítimos", o que é um polo gerador de constantes conflitos. De certa forma, esse contingente diversificado que se justapõe em um espaço tão reduzido funciona como um microcosmos da sociedade francesa atual: múltipla, polarizante e, ao mesmo tempo, fragmentária em sua essência. Esse cnceito pode ser estendido, ainda, para a sociedade contemporânea, na qual reina o multifacetado. Assim, é de se esperar que a sala de aula seja um barril de pólvora, com pequenas bombas em potencial para explodir.
Vale ressaltar um aspecto que torn "Entre os muros da escola" um filme que se coloca no meio do caminho entre ficção e documentário: os personagens do filme não são atores profissionais, o que lhes confere em cena um naturalidade flagrante. Quando falam, de certa forma expõem o que verdadeiramente sentem e vivem, pois as características que apresentam são também as de seus intérpretes. O próprio François é autor do livro no qual o filme se baseia, e faz o papel dele mesmo, sendo personagem e figura real simultaneamente. Os limites entre o que é ou não verdade ficam por demais fragilizados, a ponto de serem dissolvidos paulatinamente. Nessa linha, há também "Jogo de cena", um espécime exemplar da leva de documentários que confundem a cabeça do espectador.
Mas decifrar se isto ou aquilo é, de fato, real, é perder muito do debate que Cantet levanta, sobre as mais variadas questões. Afinal, qual o o papel de um profissional da educação nos dias de hoje? As escolas devem ter sua parcela de responsabilidade no ensino das regras de conduta de um indivíduo? Como estimular o aluno a aprender, se o próprio sistema educacional empurra para uma forma de lecionar que apresenta falhas graves? São essas e várias outras questões que se sucedem durante o transcorrer do filme, que levou a Palma de Ouro em Cannes no ano de 2008, e foi um dos indicados ao Oscar de Filme Estrangeiro em 2009. Ambos merecidos, embora o segundo prêmio não tenha sido ganho, já que o filme perdeu para "A partida", representante do Japão naquele ano.
Em várias passagens, "Entre os muros da escola" revela sua força, como quando os alunos ganham voz e explicitam o que pensam de forma categórica. Alguns não sabem muito bem o que querem, mas já descobriram o que não querem. A ação do filme é quase toda passada no ambiente escolar, e é naquelas quatro paredes, sejam as da sala, sejam as da quadra de esportes, que os anseios, angústias, ressentimentos, inseguranças, e também as alegrias e vontades de cada um ficarão nítidas. No fim das contas, o longa serve como um eficiente tratado do que é encarar o desafio de transmitir a um grupo de seres tão distintos entre si algo que possa transformar suas vidas, e lhes garantir um futuro alentador

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Recomeço...

Após um longo período de inatividade dos colaboradores desse blog, resvolvemos voltar à publicar notícias, críticas, comentários etc. sobre aquela que é a maior de nossas paixões: o cinema. Espero que gostem do conteúdo expresso, esperamos acolher todos os cinéfilos à rotmada do blog, aceitando opiniões, novas ideais e críticas construtivas.

Abraço!

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Leonardo DiCaprio em novos projetos, de Christopher Nolan e Martin Scorsese


Leonardo DiCaprio, que é nada mais, nada menos que um dos atores mais badalados dos ultimos anos, vem esse ano para "empurrar" sua carreira de vez. Desta vez o ator esta envolvido em duas grandes produções, o primeiro é o longa "Ilha do Medo" de Martin Scorsese, suspense baseado em um livro, que conta a história de um agente que investiga o desaparecimento de um paciente no Shutter Island Ashecliffe Hospital, em Boston. No local ele descobre que os médicos realizam experiências radicais com os pacientes, envolvendo métodos ilegais e anti-éticos. O filme ainda conta com Mark Ruffalo, e Ben Kingsley.

E também na ficção de Christopher Nolan, "A Origem", sobre esse projeto ainda não se sabe muita coisa, apesar dasgravações ja estarem completas, e a estréia ser em Julho deste ano, a produção do filme foi muito rigorosa, e pouco divulgou noticias sobre o projeto. Mas o que se sabe é que o elenco conta com grande nomes como: Ellen Page, Marion Cottilard, Ken Watanabe, Joseph Gordon-Levitt, Tom Berenger e Michael Caine.

"O Chris mergulha fundo nos sonhos, psicoanalisando-os. É um filme surreal, que veio da mente dele. Pra mim, tudo fez sentido. Teve muitas pessoas da equipe que tiveram que quebrar a cabeça pra entender o que acontecia no filme".

Segundo DiCaprio, o longa é mais inteligente que 'Amnésia'. E Christopher Nolan garante que "A Origem" é o melhor filme de sua carreira.

Agora basta a nós, fãs, esperarmos ansiosamente a estréia, de duas grandes produções que tem TUDO, para fazer um marco na história do cinema.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Brilho eterno de uma mente sem lembranças (2004), de Michel Gondry

As histórias de amor nunca mais foram as mesmas depois de "Brilho eterno de uma mente sem lembranças". O filme é um feliz encontro de um diretor competente com um roteirista de talento comprovado. Trata-se da união entre Michel Gondry e Charlie Kaufman, respectivamente.

Aqui temos, novamente, uma maluquice oriunda da mente criativíssima de Kaufman, que navega pelos interstícios misteriosos do amor. Não há novidade no tema abordado, e sim na maneira como se o faz. Para os familiarizados com o baú de invenções do roteirista, é sabido que virá muita metalinguagem e passeios insanos pela mente humana.


Partindo dessa premissa, o espectador é convidado a acompanhar um conto sobre o nascimento e o ocaso do amor entre Joel (Jim Carrey, menos careteiro) e Clementine
(Kate Winslet, adoravelmente louca), que se conhece numa pequena estação de trem. Conversam um pouco e se apaixonam, dando início a um idílio tão intenso quanto fugaz. Isso porque Clementine se cansa da rotina na qual se transforma seu
relacionamento com Joel. Para alguém que é mutável por natureza (o que se traduz, entre outras coisas, na variedade de cores de seu cabelo), esse detalhe é inconcebível. Daí, vem o rompimento e, com ele, a ideia inovadora de Clementine:
passar por um tratamento na clínica do Dr. Howard (Tom Wilkinson). A experiência consiste em apagar da mente todas as lembranças relacionadas a alguém especificamente que, no caso dela, é Joel.

Inconformado com a atitude de sua ex-namorada, Joel decide passar pelo mesmo procedimento. O problema começa quando, no meio do processo, ele percebe o quanto ainda ama Clementine, e que não suportaria viver sem as reminiscências desse "enlace amoroso".


Contado em linhas gerais, o enredo já mostra um mescla de gêneros cinematográficos distintos. O filme consegue fundir romance, drama e ficção científica, além de uma dose de comédia, que surge das várias situações improváveis em que os personagens se metem. Essa mistura é um dos fatores que exigem a atenção do público, pois um simples piscar de olhos pode significar a perda de elementos importantes da narrativa, que não é convencional. Isso advém do fato de que, a partir da decisão de Joel em cancelar seu tratamento, várias ações se passam em sua cabeça, especificamente aquelas que se referem à sua relação com Clementine.

Essa é a chance que temos de acompanhar, mais desdobradamente, os momentos vividos pelo casal, tão banais quanto inusitados. Nessas sequências, o púbico pode mais facilmente se apaixonar pela história dos dois, mas não adiantará torcer por eles, já que, de antemão, sabe-se que não há muito futuro para os dois.

A exemplo de seus roteiros pregressos (Quero ser John Malkovich, Adaptação), Kaufman flagra, em "Brilho eterno...", a finitude da existência e a fragilidade dos laços humanos. É um cinema em que se encontram insights de reflexão, lançados sem ancoramento na realidade palatável a que estamos acostumados.

Felizmente, Gondry compreendeu essa essência, e houve harmonia entre ele e Kaufman, assim como o foi com Spike Jonze anteriormente. E, mais uma vez, há um elenco afiado para dar conta do nonsense (aparente) dessa viagem existencial. Também se tem verborragia e uma constatação cruel, ainda que não inédita: o amor não resiste à rotina.

Hora de voltar (2005), de Zach Braff

A estreia de Zach Braff na direção de longas é auspiciosa. Jovem, ele demonstra grande talento ao debutar atrás das câmeras com o singelo "Hora de voltar".
Com um baixo orçamento e uma série de elementos cativantes, Braff conta-nos a história banal de Andrew Largeman (vivido pelo próprio Braff), um ator que volta à sua terra natal para o enterro da sua mãe. O retorno ocorre após nove anos de ausência, e não deixará que ele passe incólume. Sim, este é um filme sobre volta, mas não "mais um filme sobre volta", vale ressaltar.


Aqui, o cineasta lança mão de uma trilha sonora pop, que passeia por baladas mais românticas e melancólicas e também por canções mais alegres. Cada qual sublinha uma passagem importante da vida do protagonista, um rapaz travado, que já chegou à idade adulta, mas tem dificuldades no relacionamento com as pessoas, seja para amizade, seja para amor. Por conta disso, seu pai e psicólogo (Ian Holm) sempre lhe receitou drogas para ansiedade. Uma vez de volta ao lugar onde viveu áureos tempos, decide abandonar essas "bengalas" e caminhar sozinho. Acaba se apaixonando por Sam (Natalie Portman), uma adorável trapaceira, que também conquista facilmente o público com suas tiradas cheias de um humor todo particular. Uma cena memorável do filme é quando os dois, pouco depois de se conhecer, falam sobre a mentira. Sam dispara que mente o tempo todo, como um vício, mas que o fato de ela falar que mente sempre também pode ser uma mentira. Large e Sam entram num divertido jogo dialético sobre o valor da verdade. Um belo achado.

O veículo de Large, uma mistura de lambreta com motocicleta, também é um charme do filme, que tem roteiro também escrito por Zach Braff. Nas três frentes, ele demonstra uma maturidade incrível para lidar com as questões existenciais que interessam a todos. Sempre com uma visão poética, e, às vezes, algo melancólica. É aí que está uma das marcas de relevância desse longa, uma feliz conjugação de talento com a existência de algo a dizer. Porque não adianta um gasto exacerbado com elenco e efeitos especiais se o filme não passa verdade, é descartável e se esquece imediatamente ao final de sua sessão.


Nesse sentido, "Hora de voltar" (Garden state, no original) se destaca em meio à pilhas de besteiras com que Hollywood insiste em entupir o grande público, que se habitua a voos rasantes em termos de narrativa cinematográfica. Nas entrelinhas, a grande sacada do filme é mostrar que a vida vale por pequenos fatos, e que a felicidade não vem apenas com eventos incrivelmente grandiosos. É uma nova leitura do bom e velho carpe diem, propalado muitas vezes de maneira errônea, e que quer dizer, na verdade, atentar para cada minuto da vida, sem grandes excessos de que se arrepender depois, mas sim com consciência plena. Vale muito a pena aceitar o convite que Braff nos faz.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Os Mercenários (The Expendables), em BREVE...

Talvez o filme mais aguardado de 2010, já esta pronto, só esperando sua estréia nas telonas de todo o Mundo. O filme que vai reúner praticamente os maiores astros de filme de ação, dos anos 80, como Sylvester Stallone, Arnold Schwarzenegger, Mickey Rourke, Bruce Willis e Dolph Lundgren, além dos "nova geração" Jason Statham, Jet Li, Terry Crews e Randy Couture.

A HISTÓRIA: Um grupo de mercenários, classificados como dispensáveis, é reunido para combater um ditador na América Latina. Seus integrantes têm como marca registrada uma tatuagem, na qual está escrito The Expendables.

O Filme que teve inicio as gravações em 6 de Abril de 2009, e locações inclusive no BRASIL, mais precisamente no Rio de Janeiro, na cidade de Mangaratiba e também no Parque Laje, teve orçamento de US$ 60 milhões.
Aqui no Brasil, Sylvester Stallone, que atua e dirigi o filme, chegou a entrevistar várias modelos e atrizes brasileiras para que tivessem uma personagem no filme. A primeira cotada para o papel foi Juliana Paes, mas pelo que tudo indica, não se teve acordo, então parecia que Stallone hávia gostado de Cléo Pires, que não foi liberada pela Rede Globo, para as gravações do filme, e finalmente o papel de "Sandra", a moçinha, ficou com a mexicana Giselle Itiê; que inclusive deu uma entrevista ao lado de Stallone, dizendo que era uma honra trabalhar com um dos mais conceituados atores no ramo da "pancadaria" do mundo.

Tirando os atores já consagrados que fazem parte do elenco, Sylvester Stallone queria mais...Tanto que recebeu propostas negativas ainda de Jean Claude Van Damme, Steven Seagal, Kurt Russel, e Forest Whitaker que abandonou o projeto, o papel ficaria com o rapper 50 Cent, mas devido as criticas Stallone, o trocou por Terry Crews.

Segundo as palavras de Van Damme, o "NÃO" dele foi pela seguinte razão: "Eu lhe perguntei (Stallone) sobre o que era meu personagem, e ele me disse que não importava, que nós iamos fazer muito dinheiro, e então eu disse "não"". Steven Seagal foi convidado para fazer uma ponta, mas recusou devido a divergências com o produtor Avi Lerner. E segundo Sly, ficou surpreso quando ligou ao empresário de Kurt Russel, e o mesmo lhe disse "Neste Momento Russel, não esta interessado em projetos do tipo".

E, então eu me pergunto: "O que esperar de um filme deste?", pode ser a coisa mais manjada do cinema no século, como pode ser também algo surpreendente, que possa talvez "revolucionar" o gênero, mostrando algo nunca visto antes...Um filme que tudo pode acontecer...

E Então...tudo se resume a isso, muita pancadaria, sangue, explosões, tiros, e maaaiis sangue...Vale lembrar que a estréia no Brasil, que deveria ser em Abril de 2010 foi adiada para Agosto de 2010.

TRAILER OFICIAL DO FILME



Sinédoque, Nova York, de Charlie Kaufman (2008)

"Sinédoque, Nova York" é quase uma redundância em termos de genialidade kaufmaniana. Falar que ele é um excelente roteirista é, de fato, chover no molhado.
Suas obras parecem convergir para um mesmo objetivo: captar, sob a perspectiva do insólito, aspectos fundamentais do homem. Com seus roteiros inventivos e soberbos, ele flagra a finitude humana, a agonia do existir, e se apropria de modo espetacular da metalinguagem, chegando a uma espécie de realismo fantástico.
A sua obra também encontra aparentamento nos filmes do não menos genial Wes Anderson, realizador de pérolas como "Os excêntricos Tenembaums" e "A vida marinha com Steve Zissou". Ambos exibem uma galeria de tipos extravagantes, tal qual os "loucos adoráveis" de Kaufman.

Mas, falando especificamente de "Sinédoque, Nova York", se há uma palavra-chave para "definir" o filme (que está mais para indefinível), ela muito provavelmente é solidão. E este é o primeiro filme com Kaufman também na direção.
Caden Cotard, personagem do sempre ótimo Philip Seymour Hoffman, partece estar fadado a uma vida solitária. Afinal, sua esposa o abandona, sua filha prefere uma estranha à sua companhia, e seu projeto de vida nunca chega a se concretizar de fato, que é a peça sobre ele mesmo, que ele tenta reproduzir no galpão de um grande armazém.
A propósito da peça, é a partir do início dos ensaios para sua apresentação que o filme, que já vem até então num ritmo contagiante, evolui para um tratado sobre a personalidade humana e o eu-personagem, além de destacar o olhar do autor sobre sua obra, num viés majoritariamente psicanalítico.
A diversidade do eleco feminino é um outro grande achado do filme. Ele é composto por atrizes veteranas - à exceção de Michelle Williams - que não estão toda hora em cartaz. Todas, desde Catherine Keener, que já havia trabalhado num filme com roteiro de Kaufman, "Quero ser John Malkovich", a Diane Wiest, que demora um bocado para entrar em cena, estão perfeitas em suas composições, deixando o espectador em estado de graça.

Mas, discorrer a contento sobre todas as camadas e possibilidades do filme me parece impossível. É como querer dar conta de todas as estrelas do céu, numa comparação talvez exagerada.
Por isso, me limito a falar acerca das minhas impressões de cinéfilo acerca dessa obra monumental. E essas linhas, repito, são póuco diante do que Kaufman nos proporciona, tanto em termos de narrativa como em termos de atuações e enredo.
Issso porque ele se propõe a tratar de coisas de que as palavras não dão conta. Sempre haverá um abismo entre o que se pensa e o que se diz.
O filme é, em suma, uma espécie de épico da natureza humana muito bem engendrado, com passagens que beiram o pitoresco, mas que não são deméritos. Ao contrário, enriquecem o panorama sobre o que é o ser.