quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Sinédoque, Nova York, de Charlie Kaufman (2008)

"Sinédoque, Nova York" é quase uma redundância em termos de genialidade kaufmaniana. Falar que ele é um excelente roteirista é, de fato, chover no molhado.
Suas obras parecem convergir para um mesmo objetivo: captar, sob a perspectiva do insólito, aspectos fundamentais do homem. Com seus roteiros inventivos e soberbos, ele flagra a finitude humana, a agonia do existir, e se apropria de modo espetacular da metalinguagem, chegando a uma espécie de realismo fantástico.
A sua obra também encontra aparentamento nos filmes do não menos genial Wes Anderson, realizador de pérolas como "Os excêntricos Tenembaums" e "A vida marinha com Steve Zissou". Ambos exibem uma galeria de tipos extravagantes, tal qual os "loucos adoráveis" de Kaufman.

Mas, falando especificamente de "Sinédoque, Nova York", se há uma palavra-chave para "definir" o filme (que está mais para indefinível), ela muito provavelmente é solidão. E este é o primeiro filme com Kaufman também na direção.
Caden Cotard, personagem do sempre ótimo Philip Seymour Hoffman, partece estar fadado a uma vida solitária. Afinal, sua esposa o abandona, sua filha prefere uma estranha à sua companhia, e seu projeto de vida nunca chega a se concretizar de fato, que é a peça sobre ele mesmo, que ele tenta reproduzir no galpão de um grande armazém.
A propósito da peça, é a partir do início dos ensaios para sua apresentação que o filme, que já vem até então num ritmo contagiante, evolui para um tratado sobre a personalidade humana e o eu-personagem, além de destacar o olhar do autor sobre sua obra, num viés majoritariamente psicanalítico.
A diversidade do eleco feminino é um outro grande achado do filme. Ele é composto por atrizes veteranas - à exceção de Michelle Williams - que não estão toda hora em cartaz. Todas, desde Catherine Keener, que já havia trabalhado num filme com roteiro de Kaufman, "Quero ser John Malkovich", a Diane Wiest, que demora um bocado para entrar em cena, estão perfeitas em suas composições, deixando o espectador em estado de graça.

Mas, discorrer a contento sobre todas as camadas e possibilidades do filme me parece impossível. É como querer dar conta de todas as estrelas do céu, numa comparação talvez exagerada.
Por isso, me limito a falar acerca das minhas impressões de cinéfilo acerca dessa obra monumental. E essas linhas, repito, são póuco diante do que Kaufman nos proporciona, tanto em termos de narrativa como em termos de atuações e enredo.
Issso porque ele se propõe a tratar de coisas de que as palavras não dão conta. Sempre haverá um abismo entre o que se pensa e o que se diz.
O filme é, em suma, uma espécie de épico da natureza humana muito bem engendrado, com passagens que beiram o pitoresco, mas que não são deméritos. Ao contrário, enriquecem o panorama sobre o que é o ser.

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