terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Taxi Driver, de Martin Scorsese (1975)



Quando me perguntam sobre cinema hoje, o que primeiramente me vem a mente, é esse, o multifuncional Taxi Driver.Um exemplo sobre o real sentido da palavra cinema, que por muitas vezes, não precisa ser uma obra de arte com inovações tecnológicas ou imagens belas, mas sim, uma verdadeira e fiel indústria na arte de retratar e divulgar pensamentos.O incoformismo, o ódio, a depressão, tudo está está sendo retratado da maneira mais perfeita, nessa, que é uma das obras mais consagradas do cinema norte-americano.

Em Nova York, um homem de 26 anos (Robert De Niro), veterano da Guerra do Vietnã, é um solitário no meio da grande metrópole que ele vagueia noite adentro. Assim começa a trabalhar como motorista de taxi no turno da noite e nele vai crescendo um sentimento de revolta pela miséria, o vício, a violência e a prostituição que estão sempre à sua volta. Perde bastante noção das coisas quando leva uma bela mulher (Cybill Sheperd), que trabalha na campanha de um governador, para ver um filme pornô logo no primeiro encontro, mas tem momentos de altruísmo ao tentar persuadir uma prostituta de 12 anos (Jodie Foster) para ela largar seu cafetão, voltar para a casa de seus pais e ir para a escola. Porém, em contrapartida, compra quatro armas, sendo uma delas um Magnum 44, e articula um atentado contra o senador (que planeja ser presidente) e para quem sua amiga trabalha.



Aparentemente comum, Travis(DeNiro, magnífico)surge como um nova-iorquino sofredor de insônia.Em busca de um emprego que satisfaça suas intermináveis noites, Travis resolve trabalhar em uma empresa de táxi,porque além de passar suas longas noites em atividade, poderá ganhar algum dinheiro.Aos poucos, vemos um sujeito que assim como tantos outros americanos, está inconformado com a situação cada vez mais caótica das noites de Nova Iorque, já que como trabalha na periferia, vê diariamente os absurdos que são cometidos pelas pessoas.Com o objetivo de se “enquadrar” de alguma maneira na sociedade cada vez mais suja e degradada, ele resolve chamar uma bela e solitária garota para sair, cuja suas expectativas são destruídas após levar a jovem à uma sessão pornô, pois Travis não sabia mais o que era “ser normal”.Após o término com a bela jovem, ele se sente cada vez mais sozinho e perdido em meio aquele caos urbano e com ódio crescente sobre a humanidade, e desestabilizado pela “sujeira da cidade”, como o próprio costumava dizer.Aliado a isso, ele sente que assim como um senhor revoltado pela traição da esposa em seu táxi, ele pode(e deve), fazer justiça com as próprias mãos.Paralelamente, ele faz amizade com uma jovem prostituta(Foster, brilhante em seu primeiro papel) e deseja salientar seu desejo de justiça, ajudando a jovem a sair daquela situação vergonhosa, que estranhamente, ela parece gostar e não tem resistência em se submeter.O ódio, a misantropia e a depressão de Travis, estão crescentes, e seu desejo de “vingança” curta e crua da sociedade que sempre o revoltou, parecem eminentes e pequenas para tanto ódio.

Taxi Driver é uma obra em que todos (literalmente TODOS) merecem, e devem ter seu destaque reconhecido. Scorsese conduz a trama com a sobriedade e categoria que lhe convém e, acima de tudo, trabalha com naturalidade no comando de sua equipe. Além disso, com a ajuda do diretor de fotografia, Scorsese cria um mundo sujo, que assim como seu personagem principal descreve, parece sem perspectivas e esperanças para qualquer tipo de melhora.Robert DeNiro, faz seu primeiro papel de protagonista, e com seu dom natural, cria nos momentos mais simples, seus atos mais grandiosos. Exemplo disso é a genial cena onde o personagem principal dialoga com o próprio espelho (o próprio DeNiro improvisou a cena), onde fica claro a solidão e ódio que ele, obrigatoriamente, guarda consigo.Outro exemplo, é a cena em que o misantropo observa um comprimido se efervescendo, já que assim como ele, parece estar a ponto de eclodir diante de toda aquela zona estabilizada sobre ele.Jodie Foster em seu primeiro papel, dá vida a uma jovem prostituta, que aos poucos vamos conhecendo e percebendo que a inocência da jovem jamais existiu, e que acabamos torcendo pela ação final de seu mais novo amigo, com o objetivo de ajudar a jovem.

Reprimido por um eloqüente inconformismo, antissocialismo e ódio pelo que equivocadamente e vergonhosamente chamamos de “seres humanos”, Travis é uma representação simbólica e crua de um sujeito que assim como tantos outros inconformistas, decidiu “limpar parte da sujeira” que tanto o incomodava.

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