sábado, 12 de dezembro de 2009

Hora de voltar (2005), de Zach Braff

A estreia de Zach Braff na direção de longas é auspiciosa. Jovem, ele demonstra grande talento ao debutar atrás das câmeras com o singelo "Hora de voltar".
Com um baixo orçamento e uma série de elementos cativantes, Braff conta-nos a história banal de Andrew Largeman (vivido pelo próprio Braff), um ator que volta à sua terra natal para o enterro da sua mãe. O retorno ocorre após nove anos de ausência, e não deixará que ele passe incólume. Sim, este é um filme sobre volta, mas não "mais um filme sobre volta", vale ressaltar.


Aqui, o cineasta lança mão de uma trilha sonora pop, que passeia por baladas mais românticas e melancólicas e também por canções mais alegres. Cada qual sublinha uma passagem importante da vida do protagonista, um rapaz travado, que já chegou à idade adulta, mas tem dificuldades no relacionamento com as pessoas, seja para amizade, seja para amor. Por conta disso, seu pai e psicólogo (Ian Holm) sempre lhe receitou drogas para ansiedade. Uma vez de volta ao lugar onde viveu áureos tempos, decide abandonar essas "bengalas" e caminhar sozinho. Acaba se apaixonando por Sam (Natalie Portman), uma adorável trapaceira, que também conquista facilmente o público com suas tiradas cheias de um humor todo particular. Uma cena memorável do filme é quando os dois, pouco depois de se conhecer, falam sobre a mentira. Sam dispara que mente o tempo todo, como um vício, mas que o fato de ela falar que mente sempre também pode ser uma mentira. Large e Sam entram num divertido jogo dialético sobre o valor da verdade. Um belo achado.

O veículo de Large, uma mistura de lambreta com motocicleta, também é um charme do filme, que tem roteiro também escrito por Zach Braff. Nas três frentes, ele demonstra uma maturidade incrível para lidar com as questões existenciais que interessam a todos. Sempre com uma visão poética, e, às vezes, algo melancólica. É aí que está uma das marcas de relevância desse longa, uma feliz conjugação de talento com a existência de algo a dizer. Porque não adianta um gasto exacerbado com elenco e efeitos especiais se o filme não passa verdade, é descartável e se esquece imediatamente ao final de sua sessão.


Nesse sentido, "Hora de voltar" (Garden state, no original) se destaca em meio à pilhas de besteiras com que Hollywood insiste em entupir o grande público, que se habitua a voos rasantes em termos de narrativa cinematográfica. Nas entrelinhas, a grande sacada do filme é mostrar que a vida vale por pequenos fatos, e que a felicidade não vem apenas com eventos incrivelmente grandiosos. É uma nova leitura do bom e velho carpe diem, propalado muitas vezes de maneira errônea, e que quer dizer, na verdade, atentar para cada minuto da vida, sem grandes excessos de que se arrepender depois, mas sim com consciência plena. Vale muito a pena aceitar o convite que Braff nos faz.

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